🔍︎ | [PT] EN
🔍︎ | Contacto | [PT] EN
Reportagens de Concertos
Dream Theater - Along For The Ride Tour - Porto
2014-01-15 | Coliseu do Porto


Dream Theater
2014-01-15 21:30 | 180 min
Já lá vão mais de 20 anos desde que, nos tempos das trocas de cassetes áudio, me chegou às mãos - e ouvidos - um álbum ao vivo que me deixou estupefacto. Apesar de totalizar apenas 6 temas, a capacidade técnica demonstrada ao longo daqueles 45 minutos era impressionante, sendo os músicos capazes de tocar ao vivo de forma imaculada o que muitos não seriam capazes de tocar em inúmeras tentativas num estúdio. A qualidade dos temas também era algo de surpreendente, ainda mais tratando-se de uma banda com a qual estava a tomar conhecimento pela primeira vez, e conseguiam ao mesmo tempo ser longos mas repletos de momentos memoráveis, fazendo com que o álbum Live at the Marquee se viesse a tornar um dos meus álbuns de referência desde então. Desde então, a história dos Dream Theater é o que se sabe, tendo-se vindo a tornar gradualmente, álbum após álbum, o expoente máximo do metal progressivo, cativando legiões de fãs e, felizmente, passando regularmente pelo nosso país nas suas tournées.

Já tinham passado 4 anos desde que os tinhamos visto pela última vez, por ocasião da tour Progressive Nation, que havia passado em 2009 pelo Pavilhão Rosa Mota, no Porto, estando a banda na altura a promover o seu álbum Black Clouds & Silver Linings e tendo sido antecedidos pelos Opeth, Bigelf e Unexpect. Desta feita, já com Mike Mangini na sua fileira e com 2 novos álbuns lançados desde então, cá estão eles novamente a passar pela Invicta, desta feita no Coliseu do Porto e sem bandas de abertura, para um concerto que marca o arranque da nova tour, entitulada "Along for the Ride". Esta foi uma produção que mereceu especial atenção por parte da banda e da sua equipa, o que os levou a passar toda a semana na cidade do Porto a preparar tudo ao pormenor.

Acercámo-nos do Coliseu pelas 20:30 e, apesar do forte temporal e do jogo no Estádio do Dragão, a muralha de gente que esperava para entrar enchia praticamente toda a entrada até à rua. A entrada ia-se fazendo lentamente, permitindo aos curiosos uma rápida visita à bancada de merchandising, que no entanto apresentava uns preços proibitivos para a nossa realidade de país em crise financeira. Perto das 21:30 lá nos aproximámos da frente do recinto e conseguimos constatar que a sala estava praticamente cheia, tanto da plateia como nas tribunas e restantes lugares sentados, em mais uma excelente demonstração do apreço do público português pela banda norte-americana. Chegada a hora marcada, começa a soar False Awakening Suite e a ser projectada uma animação que nos apresenta uma integração entre as imagens e elementos que fazem parte das diversas capas dos álbuns da banda, que se iam seguindo cronologicamnete, num fantástico trabalho visual que ia obtendo grande reacção por parte do público a cada novo álbum que era incluído em cena. Assim que se chegou ao mais recente e homónimo álbum da banda, os panos caíram e deu-se início ao concerto, com a banda a arrancar com o tema de abertura deste mesmo trabalho, The Enemy Inside. Assistir a um concerto de uma banda destas num palco como este é sempre algo de imponente, mas imediatamente deu para perceber que esta noite nos iria levar ainda mais além! O palco gozava de uma iluminação fantástica e todos os músicos tinham os seus espaços bem definidos, com a majestosa bateria de Mike Mangini a centralizar as atenções, roubando mesmo protagonismo ao sempre interessante setup de teclados de Jordan Rudess que também se encontrava recuado e descaindo para a (nossa) esquerda. Um pouco mais à frente, John Myung e John Petrucci dominavam as laterais enquanto James LaBrie se apresentava ao centro, mas movimentando-se muitas vezes ao longo do palco. Os músicos pareciam bem emotivos, apesar da já longa carreira, e conseguiu-se vislumbrar expressões de felicidade e sorrisos em todos eles, para grande satisfação do público que se encontrava mais à frente e podia facilmente verificar todas estas situações. Mas, como dizia, este concerto teria ainda muitos motivos para nos surpreender, e desde logo com a enorme zona de fundo do palco, toda ela pintada a rigor, e na qual foram projectados vídeos a acompanhar todos os temas, em dimensões cinematográficas. Para além de cenas adequadas aos temas ou partes dos vídeosclips, foram também projectadas imagens do que se passava em palco, graças a diversas câmaras que se encontravam nos cantos do palco e permitiam assistir a grandes planos de cada um dos músicos. Outra dessas câmaras foi ainda estrategicamente colocada sobre um dos teclados de Jordan Rudess e por diversas vezes tivemos a oportunidade de ver em plano gigante as suas mãos a voar sobre o teclado. Seguiu-se The Shattered Fortress, com Rudess a mostrar que para além de poder rodar o seu teclado da esquerda para a direita, como já tinhamos visto em concertos passados, agora também pode ser inclinado lateralmente, permitindo uma visão de todo o teclado. Após On The Backs Of Angels seguiu-se novo regresso ao mais recente trabalho com The Looking Glass. A qualidade sonora variava um pouco em função do local da sala onde nos encontravamos, estando o som praticamente perfeito na parte da frente da plateia, perdendo-se um pouco da definição da voz e guitarra à medida que iamos recuando na sala, resultado natural devido aos ecos que resultam da própria estrutura desta sala de espectáculo. O som do baixo e do bombo estavam também um pouco altos em relação aos restantes instrumentos. Voltando ao que se passava em palco, a dada altura apercebemo-nos de que Mangini também teve direito a não uma mas 2 câmaras, estando uma colocada sobre a bateria, permitindo uma visão da parafernália de pratos, bombos, gongos e outros diversos instrumentos de percussão que foram incorporados naquela enorme estrutura; a outra câmara foi apontada directamente para o próprio, permitindo apresentá-lo em grandes-planos, o que conseguiu uma enorme ovação por parte do público, que gritou pelo músico mesmo durante o tema em curso. Foi também com um tema deste trabalho, Enigma Machine, que tivemos direito a mais um momento especial, com uma divertidíssima animação a acompanhar todo o tema, apresentando os 5 elementos da banda como se estivessem num jogo de computador avançando nos túneis e ultrapassando diversos desafios e enfrentando até mesmo um dragão. Um solo de bateria arrancou novos gritos por Mangini à medida que ele se ia recreando com a enorme variedade de instrumentos sonoros de que dispunha à sua volta. LaBrie, que desaparecia por trás do palco nos diversos momentos instrumentais para rapidamente reaparecer antes das suas intervenções, aproveita uma pausa entre temas para dizer que há 16 meses que a banda estava afastada da estrada, estando a custar um pouco a voltar a esse ritmo diário, mas que de momento estavam a gostar bastante de estar aqui. O tema seguinte seria o tema que dá nome à tour: Along For The Ride. Seguiu-se Breaking All Illusions, findo o qual anunciam um intervalo de 15 minutos.

Durante o intervalo, foram projectados videos que entretiveram o público, apresentando versões de temas e uns hilariantes action-figures de alguns dos membros da banda, como Rudess, Labrie ou mesmo uma versão transformer de Petrucci que dava para transformar num urso-robô. Findo o intervalo, Rudess entra em palco com o seu teclado portátil circular NUmotion Revo-1, o que lhe permitiu uma maior liberdade e aproximar-se da frente do palco. LaBrie recordou que passaram 20 anos desde o lançamento do álbum Awake e que lhe iriam dar também especial atenção, e realmente fizeram-no, tocando de seguida 5 temas desse álbum: The Mirror, Lie, Lifting Shadows Off A Dream, Scarred e ainda, enorme surpresa, Space-Dye Vest, tendo o público retribuído em grande com um enorme aplauso no final do tema. De seguida, um regresso ao mais recente trabalho para acabar com Illumination Theory. O público é que não se ficou por aqui e foi chamando pela banda para o esperado encore, que aconteceu passados poucos minutos, tendo sido tocados 4 temas de Metropolis, Part 2: para além da abertura com Overture 1928, foram tocadas Strange Déjà Vu, The Dance of Eternity e encerraram as cerca de 3 horas de concerto com Finally Free, recebendo no final aplausos do público por largos minutos.

Um concerto memorável, com todos os músicos a apresentarem-se em grante forma, desde o mais novato Mangini até LaBrie, que esteve a um nível quase perfeito. Foi notável o cuidado dado pela banda aos diversos pormenores, num enorme espectáculo visual, assim como a atenção dada à setlist que apresentou diversos temas já não ouvidos há bastante tempo, tornando esta uma experiência única mesmo para os mais acérrimos seguidores da bandas. Esta é uma tour altamente recomendada e um espectáculo de altíssima qualidade, a não perder, ao qual só não darei nota máxima por critérios puramente subjectivos - vou guardar essa nota para daqui a 2 ou 3 anos, na esperança de que dediquem especial atenção aos 25 anos do lançamento do Images & Words.