Os Dunderbeist foram a banda escolhida para substituir os Sylosis nas datas que incluíram as duas passagens desta épica tour por terras Lusas. Desavergonhadamente, não nos preparámos para a actuação desta banda, pelo que foi com total desconhecimento que entrámos na Sala 1 do Hard Club, no Porto, para o primeiro concerto da noite. Ainda não estava a banda em palco e já havia motivos de interesse: o palco apresentava 2 microfones, um em cada lateral, decorados com um esqueleto parcial humano, enquanto por trás era visível um enorme pano com o nome da banda em destaque em letras garrafais. Pontualmente às 20h30 deu-se a entrada em palco do sexteto Norueguês. Vestidos a rigor, com os olhos pintados de negro à volta, em jeito de mascarilha, e cheios de energia, rapidamente foram cativando a assistência, que ainda não era muita. A sonoridade aproxima-se de um hard rock moderno, pesado e cheio de ritmo, e que ganha uma animação extra quando interpretado ao vivo, pois a banda coloca uma enorme animação em palco, interagindo entre eles e com o público, tocando solos com poses de guitar-heroes, saltando, divertindo-se e procurando divertir-nos. O vocalista Torgrim Torve e os guitarristas Fredrik Ryberg e Ronny Flissundet foram os elementos mais em destaque em palco, enquanto o também vocalista Åsmund Snortheim acabou por parecer um corpo estranho durante a actuação, estando menos à vontade em palco que os restantes elementos. Nos espaços entre as músicas, Torgrim Torve incitava constantemente o público a gritar pela banda, mas ainda assim conseguimos identificar o nome de alguns dos temas interpretados, como Fear And Loathing ou Shields Aligned. Foi-nos ainda dado a conhecer que o seu novo álbum, Black Arts & Crooked Tails, iria sair no dia seguinte, sendo este já o 4º álbum da banda. No final da actuação foi perceptível que a actuação dos Dunderbeist foi recebida com agrado e surpresa por parte do público, que acabou por passar estes 30 minutos mais animados do que esperariam.
O concerto de Devin Townsend Project começou antes da hora marcada e ainda sem músicos em palco. Dificultando o trabalho ao técnico que estava a fazer o sound-check, foram projectados videos com pizzas-boomerang, texugos e mangas aos saltos ou mesmo momentos de ginástica aeróbica para poodles ao som de música mais pirosa que o músico canadiano conseguiu desencantar (quem esteve o ano passado no Vagos Open Air certamente que se lembra de ouvir a Ziltoid Radio com temas como Barbie Girl nos momentos que antecederam a actuação). Concluído o suplício para os técnicos de som, deu-se início ao concerto com Supercrush!, e desde cedo foi evidente a boa disposição de Devin, aproximando-se por diversas vezes do público para acenar, sorrir, cumprimentar, dirigir palavras ou simplesmente fazer algumas das centenas de poses com que o artista enche de cor as suas actuações. E cor foi algo que até nem faltou - num palco despido de amplificadores e com pequenos estrados metálicos que marcavam as posições onde os músicos iriam estar, eram visíveis os efeitos luminosos na bateria de Ryan Van Poederooyen, apresentando uma iluminação colorida com o logo dos DTP, assim como em algumas das inúmeras guitarras e baixos que Devin, Dave Young e Brian "Beav" Waddell iam trocando constantemente entre os temas. Temas como Vampira ou Juular foram acompanhados pela projecção do respectivo videoclip oficial enquanto todos os temas sem videoclip dedicado tiveram direito a projecção de videos mais abstractos, mas que encaixavam de alguma forma com os temas e adicionavam-lhes ainda mais uma camada de profundidade e envolvência. À medida que os temas foram sendo interpretados, Devin foi sempre comunicando o tempo todo com o público, oferecendo palhetas e recebendo presentes de elementos do público, com um porta-chaves com um mini cubo de rubik, que pendurou de imediato na guitarra, ou uma palheta. Em Lucky Animals pediu ao público que acompanhasse fazendo Jazz hands no refrão, mesmo tendo em conta que o refrão é repetido umas 50 vezes ao longo do tema, fazendo ainda questão de o dedicar ao Simon, elemento responsável pelo merchandise que os tem acompanhado na tour, com um "when this is over please pass by the merch stand and go say fuck to Simon... and please, and I mean this literally, somebody please fuck Simon...". Para o final, acedeu a um pedido feito num cartaz apresentado por um elemento do público que pedia o tema Planet of the Apes e deu a possibilidade aos presentes de votar a substituição do último tema previsto, Deep Peace por este "extremely long and complex" tema pedido, o que acabou por acontecer. As frases e momentos cómicos foram demasiados para os conseguir recordar ou reproduzir aqui, as expressões faciais, gestos e poses divertidas foram uma constante, todo o concerto foi um sem fim de humor, simpatia e excelente música interpretada imaculadamente. O som podia estar um pouco melhor, pois a voz e a guitarra solo estavam com o volume um pouco baixo, mas ainda assim nada que afectasse de sobremaneira este excelente concerto deste fantástico frontman e entertainer. Foi com pena que se chegou ao fim do concerto, pois soube a pouco.
O palco para Fear Factory estava ainda mais desprovido de elementos do que no concerto anterior, limitando-se a apresentar 2 microfones e uma bateria sobre um estrado, sem qualquer amplificador ou outros elementos em palco. A banda entrou de imediato para a frente do palco, começando de forma enérgica, com The Industrialist, um concerto que poucos momentos de pausa deu tanto à banda como ao público. De um lado do palco, o enorme Dino Cazares respondia com cumprimentos e acenos às chamadas por parte do público, enquando na outra lateral se encontrava o baixista Matt DeVries, num constante turbilhão de cabelos em movimento. No centro, também tão chegado à frente do palco quanto possível, Burton C. Bell assumiu o melhor e o pior desta actuação. Os seus berros, repletos de raiva, davam o mote perfeito às hostes para um concerto cheio de movimento e agressividade, mas nos momentos em que se exigiam vocalizações mais melodiosas foi claro o desacerto na interpretação, sendo mesmo perturbador ouvir falhas desta dimensão vindas de uma banda com 22 anos de carreira, 8 álbuns editados, criadora de um novo género musical e influenciadora de todo um movimento musical dentro do metal mais extremo. É certo que esta dificuldade em manter a afinação não é um problema recente, mas custa a aceitar que uma banda com esta história e importância não procure uma solução para algo tão básico como garantir que as vocalizações limpas são interpretadas minimamente dentro do tom nas actuações ao vivo. Deixando de parte este enorme pormenor, a actuação foi brutal, com constantes moshpits por parte da assistência, e permitiu ainda descobrir o que aconteceria na Sala 1 do Hard Club quando alguém resolvesse fazer crowdsurfing em direcção ao palco, e muito particularmente durante os temas em que é permitida a presença lá à frente dos fotógrafos. A resposta? Os seguranças rapidamente tentam furar por entre os fotógrafos para empurrar os crowdsurfers de volta para o meio do público, pois é praticamente impossível retirá-los para o outro lado das grades, de tão exíguo que é esse espaço. Durante os cerca de 80 minutos o público teve uma excelente reacção a todos os temas tocados, como Shock, Edgecrusher, Recharger ou Powershiftre, e ganhou um novo fôlego à medida que o concerto se ia aproximando do fim, ou não tivesse a banda deixado para essa altura os temas dos seus 2 primeiros álbums. Martyr e Scapegoat, de Soul of a New Machine, deram novo ânimo, culminando o concerto com os temas mais aguardados pela maioria dos presentes, Self Bias Resistor, Zero Signal e, claro, Replica, todas do incontornável álbum Demanufacture.