O segundo fim de semana de Agosto é sinónimo de peregrinação a Vagos! Este ano, o Vagos Metal Fest não fez as coisas por menos e para esta segunda edição trouxe-nos um cartaz de luxo - o maior de que há memória, no que toca a festivais de metal nacionais - para que nada faltasse ao longo dos 3 dias do festival.
Como vem sendo hábito, a localidade foi mais uma vez alvo de uma invasão pacífica de metaleiros vindos não só dos mais diversos pontos do país, mas também da nossa vizinha Espanha. As negras t-shirts eram visíveis um pouco por toda a localidade, formando diversos grupos nas esplanadas ou caminhando ao longo das ruas, em trajectos que iam confluindo na zona próxima à entrada do festival - a já conhecida Quinta do Ega. Os carros estacionados eram já em grande número e o campismo já há muito que estava repleto de tendas, tendo a recepção ao campista decorrido na véspera deste dia de arranque. Se a grande novidade deste ano era a passagem de 2 para 3 dias de festival, outras houve que também se revelaram bem interessantes. Desde logo, a nova localização da zona de controlo de acesso, que deu uma muito maior abertura ao recinto, permitindo uma maior liberdade de movimento e facilitando a passagem entre a zona de concertos e a zona de alimentação e merchandise. Também o beergarden se apresentava bastante apelativo, antevendo-se já como o local ideal para repousar as pernas entre concertos e combater o calor com a oferta variada de cervejas artesanais que lá se encontravam a preços convidativos.
E apesar do muito calor que se ia fazendo sentir, a maré humana foi avançando em direcção ao palco para assistir à abertura dos concertos...
DIA 1
As 16 horas assinalaram o início dos concertos desta edição do Vagos Metal Fest, cabendo aos conimbricenses Tales For The Unspoken as honras de abertura.
Apesar de ainda ser cedo para aquilo a que o público nacional está habituado, estava já uma moldura humana considerável para assistir a esta actuação que serviria ainda de promoção a CO2, o mais recente trabalho da banda. Temas já bem conhecidos do público como Say My Name ou I Claudius fizeram parte de uma actuação bem conseguida, com o público a responder de forma positiva aos apelos do vocalista Marco Fresco. Por entre incentivos vários para que "gastem dinheiro em cerveja ou em merchandise das bandas", a animação foi constante e teve o seu auge no também habitual tema de encerramento N'Takuba Wena.
Seguiram-se os germânicos And Then She Came. A maior parte do público espelhava nas faces o seu desconhecimento em relação à banda, e apesar dos esforços da vocalista Ji-In Cho, poucos foram os que se mostraram entusiasmados com o rock alternativo apresentado. A sua sonoridade ligeira e com alguns toques electrónicos à mistura acabou por revelar-se bastante desenquadrada no cartaz, à qual se juntou ainda algum desacerto na voz por parte da, ainda assim, animada front-woman. O público é que não se mostrou nada animado, com parte dos presentes a dispersarem e os restantes a limitarem-se a assistir sem grande reacção - preparando-se, talvez, para o regresso às sonoridades mais pesadas que se avizinhava.
Os Revolution Within trouxeram o peso e a animação de volta ao recinto. O vocalista Raça quase nem precisou de incentivar o público para que os moshpits e o crowdsurfing voltassem à Quinta do Ega, pois bastou Silence dar início à actuação para o ambiente começar logo a aquecer. Num concerto sempre a alto ritmo, destaque para o regresso ao palco de Marco Fresco para participar em Pull The Trigger. A anteceder o tema final Pure Hate, houve tempo ainda para uma wall of death.
Apesar do estranho guarda-roupa de Philly Byrne, que se apresentou de fato (pijama?) amarelo com tesouras desenhadas, desengane-se quem duvidou da seriedade da actuação que se iria seguir. Os Gama Bomb deram um concertaço de thrash sempre a abrir, que causou o caos junto às grades, com os seguranças a não terem mãos a medir para dar resposta ao constante crowdsurfing que irrompeu logo desde o tema de abertura Zombie Blood Nightmare e foi acompanhando o set de grandes malhas de thrash/crossover apresentado pela banda. Melhor do que os desvastadires temas apresentados, só mesmo o enorme sentido de humor do Philly Byrne, que foi divertindo todos com inúmeros momentos hilariantes entre temas, chegando a pedir o cartaz onde um elemento do público tinha escrito "I Love your dress", guardando-o na parte da frente das calças e ameaçando devolver o cartaz ao seu dono, no final do concerto. Um espectáculo dentro do espectáculo!
Um dos concertos mais esperados por muitos dos presentes seguiu-se, com Fabio Lione e Luca Turilli a liderarem esta reunião de ex-membros dos italianos Rhapsody. Esta actuação veio na sequência da 20th Anniversary Farewell Tour, na qual a banda interpretou na íntegra o seu segundo álbum Symphony Of Enchanted Lands, mas aqui em ambiente de festival e com menos tempo disponível, acabaram por presentear o público com um misto de temas deste álbum mais alguns dos muitos clássicos que nos transportaram mais de uma década para trás no tempo. O arranque foi tal e qual como no álbum, com a introdução Epicus Furor e logo de seguida Emerald Sword e Wisdom of the Kings, com o muito público a acompanhar, com as letras das músicas a saltar do nosso baú de memórias perdidas directamente para a ponta da língua. Sobre o palco, o quinteto apresentou-se cheio de garra, gesticulando e incentivando o público, com especial destaque para o muito enérgico Luca Turilli. Fabio Lione, depois de algum desacerto inicial (mostrando mais coração do que cabeça), foi regressando ao seu melhor registo, e foi divertido ouvi-lo a dirigir-se ao público falando em português - uma faceta que terá vindo a desenvolver desde que se juntou aos brasileiros Angra em 2012. Pelo lado negativo, há que referir alguns problemas de som que foram ocorrendo ao longo da actuação - maioritariamente desencontros ou sobreposições entre os instrumentos em palco e o som dos teclados, que eram gravados pois Alex Staropoli não se mostrou interessado em fazer parte desta reunião da banda. Para o muito público que se encontrava mais à frente do palco, isso não terá sido um problema, pela forma como continuaram a cantar temas como Land of Immortals ou o belíssimo épico Lamento Eroico. Para o final, Holy Thunderforce foi também um dos momentos altos, despedindo-se a banda ao som de In Tenebris.
E a muralha humana aumentou com a entrada em cena dos Arch Enemy. As hostilidades foram abertas com o novíssimo tema The World Is Yours, single de lançamento do álbum Will To Power que será lançado no próximo mês de setembro. Logo de seguida, Ravenous conquistou tudo e todos, com Alissa White-Gluz no seu habitual registo, sempre irrequieta e muito expressiva, ela que rapidamente se tornou uma das imagens de marca desta fase da banda. Uma vez que esta actuação não dispôs de projecção nos 2 ecrãs que ladeavam o palco, todas as atenções tiveram de estar viradas para o palco onde, para além de Alissa, também os virtuosos Michael Ammot e Jeff Loomis iam estando debaixo dos holofotes. Temas bem orelhudos como My Apocalypse, You Will Know My Name ou No Gods, No Masters, entre muitos outros, iam fazendo as delícias da maior enchente deste primeiro dia, em números que pareceram suplantar os da edição anterior. A máquina bem oleada - ainda que um pouco impessoal - terminaria a actuação com Nemesis, um concerto brutal do princípio ao fim e que gozou de um som irrepreensível!
Em contraste, com a estreia dos muito aguardados Wintersun em Portugal, os problemas de som regressaram e em força. O conjunto finlandês apresentou-se sob a forma de um quinteto, pois Jari Mäenpää decidiu que ao vivo iria concentrar-se apenas nas vocalização, contando então com Asim Searah para o cobrir na guitarra. O concerto abriu com Awaken From The Dark Slumber, também conhecido como Spring, do novo álbum The Forest Seasons. Apesar da mestria técnica de todos os intervenientes, o som saía embrulhado, com flutuações de volume entre os samples e os restantes instrumentos, ao ponto de por vezes termos dificuldade em reconhecer algumas passagens, mesmo em temas bem conhecidos como Winter Madness ou Starchild. Como se não bastasse, os graves estavam exageradamente altos, ao ponto de provocarem uma vibração intermitente que impedia por completo de seguir as melodias. Alheios a isto, os músicos em palco cumpriram de forma magistral, apesar de ser estranho ver Jari em palco a gesticular, apenas com um microfone, movendo-se de uma ponta a outra do palco. Para o final, 2 magníficos temas de Time I - Songs of Winter and Stars e Time encerraram uma actuação que merecia uma muito melhor qualidade sonora. Deixou vontade de rever, se possível em ambiente de sala, que favorecerá e muito a sonoridade da banda.
Foi ainda sem o há muito aguardado novo álbum que os Therion se apresentaram no Vagos Metal Fest. Depois dos problemas físicos de Christofer Johnsson terem feito temer o pior, foi com grande alívio que recebemos a confirmação de que o tratamento estava a surtir efeito e as actuações deste verão não teriam de ser canceladas, pelo que aqui estavam eles de regresso a terras lusas. O palco estava completamente desprovido de adereços, à imagem do que tínhamos visto há um ano atrás na Alemanha, no Wacken Open Air, e a actuação acabou por revelar-se também muito em linha com o que os tínhamos visto fazer nesse concerto. Abriram com The Rise of Sodom and Gomorrah, com a habitual alternância - quase teatral - em palco dos vários elementos, que se apresentaram como é seu apanágio em estilo steampunk - com a excepção de Linnéa Vikström, que mais uma vez parece não encaixar no estilo geral da banda, ficando também uns furos abaixo dos restantes na sua interpretação - que contraste, quando comparada com Chiara Malvestiti, que tão bem combinou a sua belíssima voz com uma presença simples e encantadora em palco! Temas como Typhon ou Wine of Aluqah pediam uma interpretação um pouco mais cuidada em algumas partes, ficando a impressão de que a banda continua um pouco em ritmo lento, enquanto não lança o novo álbum que, esperamos, deverá trazer uma nova vida às performances ao vivo. Não queremos com isto dizer que a actuação, no global, tenha sido má - simplesmente, de uma banda como esta, ficamos sempre à espera de ser surpreendidos pela positiva, algo que não tem vindo a acontecer no passado recente. Para o final, o reacender da chama com o inevitável To Mega Therion, havendo ainda direito ao subsequente tema Cults of the Shadow, culminando a actuação com um regresso à melhor era da banda, o que muito agradou a todos os presentes.
A noite ia já bem longa quando os Grunt entraram em palco, com muito latex e couro à mistura, para encerrar este primeiro dia de festival. Enquanto os restantes membros faziam a reconhecida pose com uma mão em riste em frente da cara, o vocalista Boy-G entrava em palco puxando atrás de si, pelos cabelos, uma mulher em lingerie. Com tantos apetrechos resgatados ao armário secreto dos utensílios de sado-maso, rapidamente alguns dos músicos em palco tiveram de se libertar um pouco do sufoco das suas vestimentas, sendo no entanto digna de referência a enorme qualidade demonstrada mais uma vez por Marcelo - perdão, Boy-M, mais uma performance monstruosa, mesmo estando sujeito a estas condicionantes. Se a brutalidade sonora ia sendo enfatizada pelas vestes apresentadas, a mulher em trajes menores contrastava, permanecendo praticamente imóvel à frente da bateria. Enquanto o público ia gradualmente tomando o rumo do acampamento ou das respectivas viaturas, os temas foram-se seguindo, naquele que foi um espectáculo brutal mas que acabaria por não causar o choque que certamente muitos esperavam.
DIA 2
O segundo dia arrancou de forma violenta, com o death/grind dos Implore. O calor era muito e a noite anterior tinha sido longa, mas o público lá foi comparecendo à chamada. A violência sonora era muita para esta hora do dia, mas o nosso público gosta disso mesmo, pelo que não demorou muito a haver pó pelo ar e corpos a mexer. Quanto à prestação sobre o palco, foi aguerrida q.b., com muita movimentação e raiva.
Seguiu-se o hardcore dos Brutality Will Prevail, do País de Gales. Se a brutalidade sonora se perdeu um pouco, a animação em palco acabou por aumentar ainda mais, conquistando o público, que continuou a dar dar largas à sua energia - e trabalho aos seguranças. Se sobre o palco eram saltos, chutos e passeios para cima das colunas, junto às grades eram circle-pits, poeira, crowdsurfing e passeios para fora do fosso e de volta para mais diversão. O vocalista Louis parece ter gostado, pois encerrou a actuação a fazer crowdsurf junto do público!
Depois do harcode, era a vez do metalcore dos nacionais Hills Have Eyes. Deparando-se com a sonoridade mais melódica da tarde, até ao momento, a energia do público virava-se agora também para o acompanhamento dos refrães orelhudos da banda de Setúbal. Apesar do discurso cuidadoso devido a este não ser um género consensual, era mais do que certo que a banda seria bem recebida, e foi perfeitamente claro que fizeram as delícias dos seus muitos fãs, enquanto os menos adeptos destas sonoridades aproveitaram para uma visita ao beergarden, para se manterem devidamente hidratados e descansarem um pouco, preparando o longo dia que ainda teriam pela frente.
O regresso a sonoridades mais tradicionais fez-se com os Metal Church. Depois de os termos visto há alguns anos em Barroselas, com o vocalista Ronny Munroe, apresentavam-se agora com Mike Howe na voz. A diferença entre ambos revelou-se enorme, mas sem prejuizo de qualquer um deles. Se a classe e qualidade do primeiro era inegável, este último rapidamente conquistou o público com a sua simpatia e sorriso sempre presente, apesar de parecer por vezes demasiado feliz e alegre para um concerto de heavy/thrash, hahah! Igualmente carismático em palco, era o baixista Steve Unger, bem como o mais recente membro da banda, o enorme baterista Stet Howland. O desfiar de temas era mais para o heavy do que para o thrash, pelo que o ambiente era algo morno, mas ainda assim serviu para puxar parte do público de volta para frente do palco.
Da República da Irlanda, os Primordial! Uma das bandas internacionais mais acarinhadas em solo luso, eram uma aposta ganha à partida, e assim foi - até porque ainda está para chegar o dia em que Alan Averill "Nemtheanga e Companhia darão um concerto que seja considerado menos do que espectacular. O carismático vocalista é dono de uma das vozes mais únicas do metal, e as suas prestações são sempre arrebatadoras, repletas de sentimento e capazes de agarrar o público do primeiro ao último momento. Em Vagos, assim foi mais uma vez. Abrindo em força, com Where Greater Men Have Fallen, desde logo conquistou tudo e todos. O ambiente ganhou contornos épicos, dramáticos ou mesmo opressivos, enquanto clássicos como Gods To The Godless, As Rome Burns ou The Coffin Ships, entre outros, deixavam o público arrepiado, como que hipnotizados pela prestação em palco. Nem o problema com um microfone foi suficiente para penalizar a actuação que terminaria em apoteose, acompanhando o pôr do sol, com a inevitável - e imperdível - Empire Falls. Um dos pontos altos do dia e de todo o festival.
Depois de toda a emoção e sentimento, era chegada a hora de libertar toda a tensão e partir para a festa. E assim foi, com os finlandeses Korpiklaani a pegar nas rédeas dos acontecimentos e dar início às festividades. E que bem fica o folk-metal nos cartazes dos nossos festivais de metal. A festa foi uma constante, com o muito público a aderir, com muitos braços no ar e muitas letras berradas a plenos pulmões por grande parte dos presentes. O crowd-surf foi uma constante, um mar de gente sempre a galgar as grades, sobre as cabeças, retornando rapidamente ao ponto de partida para sem demoras darem início a nova viagem, num ciclo que se iria repetir vezes sem conta ao longo da actuação. Temas como Rauta, Beer Beer, Wooden Pints ou Vodka foram alguns dos muitos momentos de dança do concerto mais alegre de todo o festival.
A grande enchente do festival estava reservada para os senhores que se seguiram. Os Soulfly têm uma legião de seguidores em solo nacional, e se isso foi perfeitamente visível ao longo da tarde, em várias t-shirts no meio do público, bastou chegar a hora do concerto para não haver margem para dúvidas. O recinto tornou-se pequeno para tanta gente ávida de ver e ouvir Max Cavalera e os seus Soulfly. Entrando em palco com um inesperado "Boa noite Porto", que viria a repetir ao longo da actuação, abriram com Blood Fire War Hate, com um turbilhão de corpos a passar sobre as grades e invadir o fosso. A máquina de groove brasileira mostrou-se bem oleada, e coube a Zyon a defesa do clã Cavalera, mostrando-se em altíssimo nível na bateria, contrastando com um Max Cavalera que se mostrou um pouco abaixo do esperado. Os temas interpretados foram muitos e sempre acompanhados com muita movimentação por parte do público, que naturalmente foi ao rubro quando Refuse/Resist se fez ouvir. O final estava para breve, com Jumpdafuckup, com o público a agachar-se e saltar todo em conjunto, encadeando de imediato Eye for an Eye, com muitos braços no ar, encerrando a actuação com um piscar de olhos a The Trooper dos Iron Maiden.
12 anos depois, os Powerwolf finalmente regressaram a Portugal. E se, na altura, no saudoso Hard Club em Vila Nova de Gaia, se apresentavam como um projecto ainda em busca da sua identidade e sonoridade própria, chegavam-nos agora claramente no auge da sua carreira, um dos valores mais fortes do power metal da actualidade e responsáveis por algumas das mais animadas actuações nos mais diversos festivais espalhados por esta Europa fora - algo que pudemos confirmar in loco, há uma semana atrás, na Alemanha, no Wacken Open Air. Como vem sendo hábito por cá, o palco ficava bastante a dever, no que toca ao aparato, relativamente ao que costumamos ver lá por fora, mas ainda assim tivemos direito aos 2 teclados de Falk Maria Schlegel (ainda que sem as águias douradas que normalmente os decoram), 2 plataformas mais elevadas e um suporte de microfone elaborado para Attila Dorn. A entrada dos germânicos em palco foi feita ao som da intro Lupus Daemonis e saudada de forma bem efusiva pelo público, uma clara demonstração de que este era outro dos concertos há muito esperados por cá.
Com os lobinhos Greywolf a apresentar a sua habitual energia e Attila Dorn desde logo a pedir a participação do público, o ataque começou com Blessed & Possessed, sendo impressionante a forma como o tema foi acompanhado por todos, alto e bom som. Falk Maria foi, como sempre, um espectáculo dentro do espectáculo, no seu misto de teclista e animador das hostes, competindo diversas vezes com Attila Dorn na captação da atenção do público. Depois de se dirigir ao público com um hilariante hilariante "Good Morning", seguiram-se Army of the Night, Coleus Sanctus e Amen & Attack, com a setlist a revelar-se como uma réplica da do concerto da semana transacta em solo germânico, mas a intensidade que a banda coloca sempre na sua prestação nunca deixa ninguém indiferente, e leva-nos sempre a participar, aplaudir e cantar a cada momento, mesmo naquelas já mais do que batidas batalhas de berros entre partes do público, que aqui são momentos de pura diversão. Exemplo disso foi o momento em que colocam o público a ensaiar os oh-oh-oh's para Armata Strigoi, com o coro nacional a dar muito boa conta de si. E, se a baladona Let There Be Night deixou um arrepio na espinha, logo de seguida a hilariante Resurrection by Erection trouxe de volta os coros cantados a plenos pulmões, enquanto em Werewolves of Armenia público e banda trocaram HUHs e HAHs (e não AAAAAAHs ou ERGHs como Attila Dorn divertidamente apontou.
Sanctified With Dynamite e o hino We Drink Your Blood marcaram o final desde regresso apoteótico dos Powerwolf a terras lusas. Que voltem depressa, pois concertos destes fazem cá muita falta.
Passava já das 3 horas da manhã quando os misteriosos Batushka finalmente entraram em palco, depois de uma espera de mais de 45 minutos durante a mudança de palco e checksound. E, se muitos dos presentes desistiram e foram saindo do recinto, melhor fizeram os resistentes que permaneceram em frente ao palco, pois tiveram direito a um excelente final de segundo dia - e provavelmente ao melhor som de todo o festival, pelo que a espera até terá valido a pena, com tamanho resultado final. Envoltos em fumo e cobertos da cabeça aos pés com as suas longas túnicas e máscaras a tapar a totalidade das faces, os Batushka entraram num palco decorado a rigor para tocar na íntegra o seu álbum de estreia Litourgiya. A mistura de black metal com os coros arrastados e melancólicos transportaram os ainda presentes na Quinta do Ega para outras paragens, como que em transe, hipnotizados pelos cânticos litúrgicos aqui apresentados nesta versão infernal.
DIA 3
Depois de 2 longos dias de festival, poucos foram os resistentes que se apresentaram junto às grades para o arranque do 3º e último dia. À hora marcada, os espanhóis Reaktion entraram em palco para começar a aquecer o ambiente com o seu thrash. A banda de Barcelona trouxe em carteira o seu álbum de estreia Blackmailed Existence e muita vontade de mostrar serviço, apesar de deixarem transparecer algum nervosismo e falta de á vontade em cima do palco. Ainda assim, aos pontos lá foram conseguindo alguma reacção por parte do muito pouco público presente.
O público ia-se aproximando vagarosamente mas de forma constante, pelo que foi perante uma moldura humana já bem mais composta que os nacionais Attick Demons arrancaram para 30 minutos de heavy metal. No meio da assistência era perceptível a presença de vários fãs da banda lisboeta, que abriu o concerto com Circle of Light, do seu segundo álbum Let's Raise Hell, lançado no ano passado. A voz de Artur Almeida e os riffs de guitarra a rasgar marcaram uma actuação que teve como momentos altos os temas Let's Raise Hell e Atlantis, tema-título do seu primeiro trabalho, cumprindo assim com sucesso a árdua tarefa de acordar um público que ainda estava muito adormecido nesta quente tarde de 3º dia.
Depois do heavy metal, seguiram-se os lisboeta Miss Lava, que transportaram a Quinta do Ega para os anos 70 com o seu stoner rock. O público foi abanando a cabeça ou apreciando o concerto sentado na relva, enquanto, em cima do palco, Johnny Lee ia puxando pelo público, bem acompanhado pelos acelerados riffs de Raffah. Os muitos aplausos demonstraram claramente o apreço do público presente por esta actuação.
E com os norte-americanos Chelsea Grin, voltou a violência sonora à Quinta do Ega. Com Self Inflicted - o seu mais recente trabalho, editado no início do ano - em carteira e energia para dar e vender, foram responsáveis pelo regresso em força dos circle-pits, do crowd-surfing e da poeira pelo ar. Pelo menos, até ao concerto dos senhores que se seguem...
E com os Havok a maré subiu! Foi uma corrente ininterrupta de crowd-surfers, uns atrás de outros, ao longo dos cerca de 60 minutos de um thrash que não deu tréguas. A banda norte-americana combinou força, velocidade e técnica de uma forma perfeita, juntando-lhes ainda uma constante movimentação em palco. David Sanchez ia puxando pelo público, mas nem precisaria de o fazer pois todos estavam sedentos de thrash, pela forma como a poeira se fartou de cobrir a muita assistência que agora se encontrava no recinto.
Regresso ao deathcore com os Whitechapel, que recentemente tinham sido notícia devido ao abandono do baterista Ben Harclerode e sua substituição por Chason Westmoreland. O público continuava animado, ignorando por completo o peso das passadas 48 horas de festival, e continuou a dar que fazer aos seguranças. Sobre o palco, havia alguma acção a acompanhar todo o groove do som destes também norte-americanos, mas de uma forma bem mais pensada e controlada do que o que tinhamos visto durante a actuação dos seus compatriotas Chelsea Grin. A actuação, que inclui temas como I, Dementia, Elitist Ones ou Let Me Burn acabou por pecar apenas por chegar abruptamente ao final, 30 minutos mais cedo do que o previsto, para decepção de um público que estava à espera de mais.
Foi 30 minutos mais cedo do que o previsto que os suecos Hammerfall entraram num palco equipado com plataformas elevadas e canhões de fumo. Abriram com Hector's Hymn perante uma assistência curiosa que foi sendo conquistada sem grande dificuldade por Joacim Cans, Oscar Dronjak e companhia. Foi um espectáculo visual cativante, com uma excelente iluminação e utilização criteriosa do fumo, contando ainda com uma boa prestação por parte dos intervenientes, sempre a fazer poses ou a interagir com o público. Para além disto, há que referir ainda a estranha guitarra utilizada por Oscar Dronjak, que parecia tão inadequada até ao momento em que este a empunhou sobre a cabeça, transformando-se a guitarra num enorme martelo! Temas como Blod Bound, Renegade ou Let the Hammer Fall fizeram as delícias dos fãs, que foram ao rubro com o medley de temas do seminal álbum de estreia Glory to the Brave, acompanhando as letras. Para o encore, Hammer High foi outro dos momentos altos, chegando o concerto ao fim com Bushido, o single que marcou o regresso da banda em 2014, e Hearts on Fire, para um último coro por parte de todos.
Mantendo-se a antecipação de 30 minutos, chegava a vez do death metal técnico dos canadianos Gorguts. Foi perante uma plateia já bem menos numerosa que Luc Lemay trouxe de volta as sonoridades mais pesadas, hipnotizando o público com os intrincados rendilhados que abundam ao longo dos seus temas. Mais uma vez, ficámos sem palavras para descrever a proficiência técnica de todos os elementos em palco, todos eles passando sem aparente dificuldade pelas complexas melodias e ritmos. Num concerto todo ele brutal, não poderíamos deixar de referir os belíssimos temas de Colored Sands, que tão bem combinam momentos de brutal desvastação com passagens mais contemplativas, transportando-nos entre mundos e fazendo-nos esquecer que o término estava aqui tão próximo...
E chegou a vez da última banda assinalar o fecho deste 2º Vagos Metal Fest. O palco foi tomado pela neblina, à imagem de todo o recinto, para receber os Cough. O público era agora já formado apenas por muito poucos resistentes, que ficaram para ouvir os muito arrastados riffs que nos iam recordando aos poucos que as forças já eram e o cansaço afinal era muito. A mistura de fumo, sombras e focos de luz dava um tom ainda mais enigmático à parede sonora que nos estava a ser servida, uma banda-sonora de despedida que nos acompanhou através do muito nevoeiro que se foi formando ao longo de todo o trajecto de volta até à civilização.
Depois de uma 1ª edição bem positiva e conseguida em tempo recorde, esta 2ª edição do Vagos Metal Fest não só confirmou todas as boas indicações deixadas, como surpreendeu pela ambição demonstrada e pela capacidade de identificar pontos a melhorar e trabalhar no sentido de o conseguir, mostrando que estão atentos aos pedidos do seu público e que procuram responder da melhor forma às suas necessidades. O alargamento do recinto, a criação de um beergarden, a aposta arrojada num cartaz que foi ao encontro dos desejos do mais variado público, tudo isto culminou em 3 dias de enorme diversão e muita e excelente música, conquistando as cerca de 15 mil pessoas que estiveram presentes no festival. Apesar dos problemas de som que afectaram alguns concertos, do mau cheiro das águas estagnadas, junto às tendas, e dos milhares de mosquitos que nos atacavam em força mal o sol se começava a esconder, as expressões das pessoas e as inúmeras manifestações ao longo destes 3 dias, incluindo o já icónico "É AQUI CARALHO!", não deixam margem para dúvidas no que toca à forma como as pessoas sentiram e viveram este festival. Já no rescaldo do evento, houve ainda a oportunidade de confirmar que os objectivos para esta edição do festival foram atingidos e que estavam já a trabalhar na edição do próximo ano, que terá lugar, como não poderia deixar de ser, no 2º fim de semana de Agosto, com a organização a assumir o desejo de continuar a crescer, de forma a ombrear com os maiores festivais da Península Ibérica. Objectivos bem ambiciosos, confirmados pelo anúncio recente de que esta 3ª edição irá passar de 3 para 4 dias e de 1 para 2 palcos. Se a organização e todas as instituições envolvidas continuarem o excelente trabalho que têm demonstrado até aqui, estamos certos de que daqui a um ano terão em mãos novamente um enorme sucesso. Até para o ano, Vagos!